No Paraná, mais de 100 espécies de animais correm perigo crítico de extinção

Onça-pintada, tamanduá-bandeira, anta e veado-campeiro estão entre animais próximos da extinção no estado, aponta relatório. No Paraná, animais simbólicos como

No Livro Vermelho da Fauna Ameaçada, há pelo menos 59 espécies cuja ameaça de extinção está diretamente relacionada à expansão e aos impactos da agropecuária, uso de agrotóxicos ou conversão de habitats para fins agrícolas e de pastagem.

O motor da expansão predatória é a soja. Segundo o MapBiomas, de 1985 até hoje, a área dedicada à monocultura no Paraná aumentou cerca de 3,5 vezes: de 1,6 milhão para 5,7 milhões de hectares ocupados.

O estudo destaca a conversão de campos naturais em plantações de pinus e eucalipto entre os fatores que colocam espécies como o tamanduá-bandeira em risco. O uso de agrotóxicos para controle de formigas, incêndios e atropelamentos também figuram entre as ameaças à existência do animal no estado.

Em relação aos polinizadores, dez espécies de abelhas estão sob risco de extinção no estado e uma está regionalmente extinta, entre mamangavas, abelhas-das-orquídeas e abelhas-sem-ferrão. O risco se dá, em especial, pela perda de habitat para monocultura, pastagem e silvicultura (pinus e eucalipto).

Outras ameaças são o fogo e o uso de pesticidas e agrotóxicos. Espécies que constroem ninhos na terra, como as mombucas, estão ainda mais sujeitas às alterações humanas do solo. Além das abelhas, 11 espécies de anfíbios podem desaparecer na região — 10 deles são endêmicos, o que quer dizer que só existem em território paranaense.

‘A biodiversidade é a chave’

Para Roberto Fusco, ações de conservação e proteção dos habitats estão entre as estratégias mais importantes para o combate ao risco de extinção da fauna nativa. O Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar atua em um dos maiores remanescentes do bioma no Brasil e concentra esforços na preservação de animais como a onça-pintada, a anta, e o queixada.

“Pegando toda a Serra do Mar do Paraná mais a parte de São Paulo, que dá uma área de 1.700.000 hectares, a gente estima 25 indivíduos, o que é muito baixa com uma área grande dessa”.

De acordo com a estimativa, a Mata Atlântica da Serra do Mar seria habitada, aproximadamente, por uma onça-pintada a cada 68 mil hectares.

Para além de proteger as espécies, Fusco afirma que a preservação da biodiversidade é essencial para garantir a existência de ecossistemas inteiros. “A proteção de florestas com toda a sua biodiversidade previne a propagação de doenças, zoonoses. Os animais ele tem um papel fundamental na qualidade do solo, na qualidade da floresta”, explica.

O biólogo explica como o desequilíbrio gerado pela extinção de espécies importantes afeta, além da fauna e flora, a população humana e o superaquecimento do planeta.

“Herbívoros, de um modo geral, têm um papel muito importante na dispersão de sementes de árvores para recuperação, e essas árvores são aquelas que conseguem capturar a maior quantidade de CO2 [gás carbônico, um dos responsáveis pelo efeito estufa]”, afirma.

Sobre o Livro Vermelho

O Livro Vermelho da Fauna Ameaçada classificou 5.087 espécies. Dessas, 339 foram classificadas sob risco de extinção. O estudo foi realizado pelo Instituto Água e Terra (IAT) e pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável (Sedest).

As categorias de risco de extinção, em ordem crescente de gravidade, são: Menos Preocupante (LC), Quase Ameaçada (NT), Vulnerável (VI), Em Perigo (EN), Criticamente em Perigo (CR) e Regionalmente Extinta (RE), Extinta na Natureza (EW) e Extinta (EX).

O relatório aponta para oito espécies hoje extintas no estado do Paraná. Quase todas são aves, como a bandoleta, o pato-mergulhão e o pararu-espelho. Uma espécie de abelha, a mandaçaia-do-chão, também não existe mais na região.

g1 procurou o IAT e Sedest, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

*Com colaboração de Rodrigo Matana, estagiário do g1, supervisionado por Douglas Maia.