Relatório mostra que chuvas ainda são insuficientes para a agricultura

Levantamento divulgado pela Secretaria da Agricultura e do Abastecimento analisa as precipitações do terceiro trimestre, abrangendo praticamente todo o inverno. Clima impacta na produtividade de culturas que estão sendo colhidas e impõe atraso no plantio das culturas de verão.

O Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e Abastecimento divulgou nesta quinta-feira (08) um relatório que analisa as precipitações pluviométricas do terceiro trimestre de 2020. Apesar de agosto ter registrado mais precipitações, o volume de chuvas ainda é insuficiente para a agricultura e o Estado continua enfrentando a maior seca da história.

A escassez de chuva vem desde junho de 2019. Em setembro de 2020, as temperaturas estiveram acima do normal em todas as regiões do Paraná, atingindo 4,3 graus acima da média em algumas localidades. Portanto, além da estiagem prolongada, o Estado registra temperaturas acima da média para a época do ano e, acompanhada pela incidência de mais ventos, as umidades do solo e do ar ficam muito baixas.

As consequências dessas anomalias impactam diretamente no campo, com redução nas produtividades das culturas que estão sendo colhidas e atraso no plantio das culturas de verão, o que deve influenciar na semeadura das culturas da segunda safra no ano que vem.

O relatório divulgado pelo Deral analisa as precipitações pluviométricas do terceiro trimestre de 2020, abrangendo praticamente todo o inverno. A estação é tradicionalmente já é um período com menores volumes de chuva, influenciando diretamente na produção dos cereais de inverno, na segunda safra de milho e em toda a cadeia produtiva da pecuária.

A divisão geográfica por região utilizada pelo Deral é a mesma do Simepar, abrangendo todos Núcleos Regionais da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento.

JULHO – De acordo com o técnico agrícola do Deral, Dirlei Manfio, autor do estudo, em julho de 2020, em todas as regiões, o volume de chuva foi muito inferior à média histórica. A situação mais dramática foi na Região Noroeste, onde foram registrados apenas 9,2 mm, o equivalente a 11% da média do mês, com uma redução de 89% no volume. A Região Norte também apresentou uma redução expressiva de 83% no volume de chuvas, com uma média de 13,9 mm.

Na Região Sudoeste, envolvendo os Núcleos Regionais da Secretaria da Agricultura de Francisco Beltrão e Pato Branco, o volume de precipitação no mês de julho de 2020 representou 53% da média dos últimos 10 anos. Foi a que apresentou a menor diferença em relação à média histórica, onde também foi registrado o maior volume, 58,1 mm.

AGOSTO – O mês de agosto de 2020 foi totalmente diferente e o volume de chuvas foi maior. Segundo Manfio, geralmente, esse é um período em que as precipitações pluviométricas são baixas. Na região de Guarapuava, por exemplo, a média dos últimos 20 anos é de 96,1 mm. Mas, ao contrário do que aconteceu em outras regiões, em agosto deste ano, o índice foi de 230,0 mm. Ou seja, nessa estação meteorológica, o volume de chuva ficou 139% acima da média.

Os maiores volumes de chuva em agosto de 2020 foram registrados nas regiões Centro-Oeste (185,4 mm) e Sul (173,5 mm). O que chama a atenção são as regiões Noroeste, onde o volume de chuva foi 2,8 vezes superior à média dos últimos 10 anos; a região Centro-Oeste, com 2,5 vezes; e a região Norte, com praticamente 2,3 vezes a média do volume no mês.

Ainda que o mês de agosto deste ano tenha registrado volume acima da média histórica, é necessário esclarecer que a estiagem persiste em todas as regiões, afirma Manfio. “Embora o volume de chuvas seja considerado grande no mês, o que é incomum para este período, ele ocorreu durante nove dias, de forma concentrada. Assim, não foi suficiente para amenizar a escassez de água em várias regiões, apenas para suavizar o problema”, diz o técnico.

As chuvas de agosto trouxeram um pouco mais de esperança para os produtores, pois ajudaram a recuperar a umidade necessária para os cereais de inverno se desenvolverem, evitando que as perdas na produtividade aumentassem. É o caso da região de Guarapuava, onde as lavouras estavam entrando em fase de floração e frutificação.

SETEMBRO – Em setembro, a escassez de chuvas voltou com mais força. Na região Noroeste, o volume de chuva atingiu apenas 6% do total registrado na série histórica. Na região Norte, choveu somente 14% do que normalmente choveria nesse mês, e na região Oeste, 16%.

Os maiores volumes de chuva em setembro de 2020 foram registrados nas regiões do Litoral e Sul, com respectivamente 46,8 mm e 33,4 mm, mas, ainda assim, inferiores à média.

Por mais que o mês de outubro de 2020 tenha começado com chuvas em vários municípios do estado, a estiagem continua. Os volumes registrados até agora foram muitos irregulares. Na região Centro-Sul, por exemplo, choveu de 4 a 5 mm, em apenas duas das oito estações meteorológicas existentes na região.

Apenas a região Sul registrou chuvas em praticamente em todas as estações meteorológicas, mas os volumes foram superiores a 40 mm somente nas proximidades de Laranjeiras do Sul, Pinhão, Candói, Guarapuava e Castro. Nas demais, o volume foi bem menor.

Na Região Metropolitana de Curitiba, onde a escassez de água para o consumo humano está mais comprometida, os volumes oscilaram de 1 a 6 mm. Nas regiões Oeste, Centro-Oeste, Noroeste e Norte praticamente não choveu nos seis primeiros dias de outubro, pois os registros não chegaram a 1 mm em algumas estações meteorológicas.

TEMPERATURAS – Apesar das previsões de chuva nos próximos dias, a estiagem atual é a maior e mais prolongada até o momento. E a anormalidade climática deste ano não está apenas nas precipitações pluviométricas. As temperaturas máximas registradas no Paraná têm batido recordes históricos em várias regiões, situação que também justifica o elevado consumo de água neste momento delicado.

Na estação meteorológica do Simepar em Guarapuava, que é uma das regiões mais frias do estado, as maiores temperaturas de setembro e outubro nos últimos 21 anos foram registradas em 2020.

A média da máxima nos últimos 20 anos foi de 29,7 graus para o mês de setembro. Nos anos de 2004 e 2019, a temperatura máxima foi de 31,8 graus e em 2020 chegou a 34,1 graus – a mais alta do período analisado.

No mês de outubro, a maior temperatura foi registrada no dia 2, que chegou a 35,3 graus em Guarapuava. Em anos anteriores, registrou-se 33,6 em 2014 e novamente em 2019, sendo que a média da temperatura máxima do mês é 30,7 graus, a maior dos últimos 20 anos.

Fonte: AEN